Visão prospectiva da actividade a desenvolver na ARTAVE

Numa visão prospectiva da actividade a desenvolver nos próximos anos é preciso ter em consideração a direcção das políticas educativas: Programa Educação 2015, Quadro Estratégico para a Educação e Formação 2020 da União Europeia (EU) e Projecto Metas Educativas 2021 da Organização de Estados Ibero-americanos. O objectivo comum nestas metas propostas é a adopção de práticas de qualidade, inovação e sucesso.

A acrescentar, o Conselho Nacional de Educação defende que a “continuidade das políticas educativas, sustentada numa cuidada avaliação, é crucial para o desenvolvimento estratégico da educação e não se coaduna com alterações avulsas” (Recomendação n.º 2/2010). Mas sabendo que ao nível central, as alterações pouco dependem do trabalho do professor, há que continuar a investir em inovações nos outros três níveis, os que Roldão denomina de institucional (da ARTAVE ou do grupo das escolas profissionais de música), grupal (dos órgãos intermédios da escola e/ou grupos informais de professores) e individual (do própria professor, nas dimensões de desenvolvimento profissional, pedagógico e curricular).

Para assumir inequivocamente os objectivos estratégicos definidos no quadro da UE deverá haver preocupação com a promoção da equidade tendo em conta os diferentes grupos sociais de origem dos alunos e a qualidade das aprendizagens realizadas, muito vinculadas às desigualdades de origem cultural e socioeconómica. Com este objectivo dever-se-á continuar a desenvolver a planificação conjunta com os pares e a flexibilidade curricular a fim de colmatar os problemas graves ao nível da acumulação de dificuldades de aprendizagem, para que não haja mais módulos em atraso e se eleve a qualidade das aprendizagens para o nível de excelência.

Esperemos que, apesar da diminuição do orçamento de estado para a educação, se possa atenuar as dificuldades em lidar com a heterogeneidade de culturas e de perfis familiares e não se acentuem as dificuldades de acesso. Se até agora, na ARTAVE, os alunos tinham apoio financeiro para as deslocações ou subsídios de alojamento, algo terá de se realizar no sentido de não regredirmos em termos de acesso à escola. (Decreto-Lei n.º 138-C/2010 de 28 de Dezembro, regula o apoio do Estado aos estabelecimentos do ensino particular e cooperativo). Porque em tempos de crise, a educação e a ciência são garantia de futuro. Uma educação de qualidade para todos constitui uma alavanca para sair da crise actual, na medida em que promove a instrução e o enriquecimento cultural dos cidadãos, a sua capacidade de iniciativa, de criatividade e de compromisso para com o outro.

Num permanente esforço de prestação de contas à sociedade impõe-se encontrar as formas de divulgação adequadas para que todos tenham oportunidade de contribuir para a melhoria do sistema. Neste sentido, dever-se á desenvolver a supervisão pedagógica e a divulgação dos seu resultados.

Procurando a educação de excelência, poder-se-ão criar plataformas integradas para implementar práticas que potenciem a utilização de ferramentas de TIC no ensino da música (Resolução do Conselho de Ministros n.º 91/2010, de 19 de Novembro, aprova a Agenda Digital 2015, iniciativa inserida no âmbito do Plano Tecnológico ).

No que se refere à organização pedagógica e progressão dos alunos, é importante contribuir para o envolvimento e responsabilização de todos os intervenientes educativos: da Direcção e de cada um dos docentes, das famílias e da comunidade local. Será importante que as mais variadas instituições da comunidade local assumam a responsabilidade para evitar quer a desigualdade de género, quer a “orientação pela negativa”, promotora de desmotivação e insucesso (Parecer 3/2009).Enquanto docente posso fazer com que os alunos continuem a trabalhar mais na escola e, aqueles que necessitem, tenham mais apoio. É preciso uma monitorização sistemática para evoluir na resposta aos alunos. O acompanhamento e apoio aos alunos deve ser feito ao primeiro sinal de dificuldade para que não se acumulem obstáculos à progressão. Com aulas suplementares no período de interrupção lectiva, chamando a atenção, não com expulsões ou suspensões mas com a realização de audições, apresentações de trabalhos ou de performances musicais (à semelhança do que foi realizado com uma aluna que se ausentou da escola sem autorização).

Será necessário reforçar os mecanismos de orientação escolar e profissional de modo a que os alunos sejam ajudados na construção de uma identidade pessoal e vocacional. Como? Por um lado, melhorando a verdadeira audição dos alunos, pais e pares porque “escutar não é uma coisa que se aprenda de repente, é um processo de crescimento” (Torralba, 2010) e por outro, através do acompanhamento e monitorização dos alunos: a inovação poderá gerar dispositivos de divulgação de práticas de sucesso, em articulação com mecanismos de atribuição de recursos, consultoria. Também os recursos tecnológicos actuais viabilizam a constituição de redes, parcerias ou comunidades de prática, com grande variedade de configurações, que poderão enquadrar a difusão de informação, a troca de experiências e a produção de conhecimentos. Apesar de ainda ser uma realidade distante para alguns alunos o uso do computador ou a internet em casa, é inevitável os avanços e consequente acompanhamento das práticas ligadas à evolução social e da informação. Por outro lado, as capacidades “tecnológicas” adquiridas dos alunos devem ser uma mais valia para desenvolver actividades motivadoras, aprendizagens significativas.

Em síntese, sabendo que é fácil ensinar alunos bons e médios e que se tem problemas em atenuar efeitos de origem socioeconómica, é fundamental que a educação e a formação sejam encaradas como garante do desenvolvimento do indivíduo no seu todo. É necessário garantir melhores condições de frequência e de acompanhamento dos alunos durante o seu percurso na escola.

Num mundo cada vez mais vazio de espírito, diante de uma realidade que é cada vez mais hostil à solidariedade e compromisso com os outros, frente a um sistema educacional extraviado no individualismo e na instrumentação, somos chamados a resgatar o ser humano que está por trás de cada aluno, de cada professor e restaurar o controle soberano das suas existências, especialmente ao nível intelectual e, sobretudo, espiritual. (Rojas, 2010)