Plano de melhoria

 

Com base no Modelo Integrado de Inovação Curricular, proposto e desenvolvido por Alonso (1991, 2006), após a Sessão 7, a 8 de Maio de 2010, apresentei um plano de melhoria que gostaria de ajudar a desenvolver na minha escola, fazendo uma previsão das potencialidades e condicionalismos na sua implementação.

Tal como o ser humano se deve adaptar à mudança procurando ser cada vez melhor, também a escola enquanto instituição sustentada por pessoas, deve ambicionar a qualidade. Nesta perspectiva, apoiada no paradigma cognitivo, construtivista, crítico e ecológico, apresento plano de melhoria para a Artave, escola da qual faço parte como Responsável (do Curso Básico Instrumentista de Cordas), professora (de Violino, Música de Câmara, Trabalho Individual e de Naipe) e colega. Portanto, escola que também é minha e representa, em parte, resultado do meu desenvolvimento, desempenho e dinamismo.

Para uma renovação da cultura de escola, a mudança terá de se realizar em quatro dimensões:

1 – Desenvolvimento Profissional (dos docentes)

 - Investir/incentivar a formação do corpo docente quer a nível artístico-musical e quer a nível pedagógico. Como sublinha o relatório final elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação no séc. XXI, criada sob a égide da Unesco, a educação realiza-se ao “longo de toda a vida”.

Mas, não basta recrutar os melhores professores e formá-los bem. É preciso mantê-los sempre actualizados. Por isso, seguindo exemplos dos países com os melhores sistemas educacionais como a Finlândia e o Japão, é necessário incentivar os docentes a elaborarem e planearem o material didáctico juntos, assim como visitarem a sala de aula dos colegas para observarem o seu trabalho e desenvolver iniciativas especialmente voltadas para a formação em serviço.

- Dar autonomia aos professores para que se gere motivação e, na consequência disso, se desenvolvam processos de discernimento/julgamento para decidir a forma mais adequada da acção, nas situações concretas complexas da sala de aula.

 - Desenvolver a colaboração entre professores, para retirar o máximo de proveito das reuniões semanais/mensais de disciplina/grupo/área, em benefício dos alunos e do Projecto Educativo da Escola. “A qualidade e a eficácia da cooperação entre profissionais traduzir-se-á então na definição e distribuição de responsabilidades, no estabelecimento e aceitação de processos de tomada de decisão, na partilha na utilização dos recursos disponíveis e na definição de dispositivos de avaliação do trabalho realizado.” (Giangreco et al., 1994, cit. in Morgado, 2006, pp.44). Trabalhar num “aprender a viver juntos” (um dos quatro pilares essenciais à educação no séc. XXI, propostos pela Comissão da Unesco) através do conhecimento em acção, da reflexão na acção e da reflexão sobre a acção – investigação-acção colaborativa. É sabido que a reflexão é condição necessária para a qualidade nos sistemas sociais generativos pois será garantia do avanço positivo e meticuloso, de geração em geração, ciclo sobre ciclo, passo a passo.

- Em conclusão, desenvolver competências com a melhora da formação, colaboração e papel/função do professor (Morgado, 2006, pp.48).

2 – Desenvolvimento Pedagógico (das aprendizagens, na sala de aula)

- Incentivar nos alunos, não só a apresentação da qualidade do produto final, mas a qualidade no processo de aprendizagem, isto é, procurar a integração do conhecimento com o desenvolvimento de competências. Ter a preocupação de não haver centralização na excelente execução (rigor técnico, memorização, muitas vezes imitação) mas antes focalização no desenvolvimento de destrezas e competências que lhe serão úteis no futuro.

- Clarificar os objectivos, competências, estratégias e avaliação para cada actividade, de cada disciplina, para cada aluno – melhorar o planeamento educativo.

- Ensinar a “aprender a fazer” (tocar), “a conhecer” (investigar, interligar), “a ser” (auto-regulação) e a “viver juntos” (partilhar, colaborar). – Unesco, 1996

- Desenvolver no aluno, várias inteligências (não apenas a musical) para o seu desenvolvimento pessoal e social, para a sua construção holística/social awarness.

- Criar mais actividades que impliquem auto-envolvimento e avaliação formativa (animação de oficinas, role-play/dramatização, debates, desenvolvimento de projectos, resolução de problemas, visitas de estudo, publicação/partilha de trabalhos realizados) para estimular a criatividadeinovação dos alunos, futuros profissionais.

 - Procurar diversificar os materiais e recursos (softwares, vídeos, fotografias,…).

 - Procurar diversificar os espaços (biblioteca, aulas que se realizem em simultâneo/no mesmo tempo mas noutro espaço/noutra sala de aula, auditórios, ar livre).

- Construir um clima social na sala de aula, estimulando a definição positiva do sistema de regras em vez de estabelecer o enunciado mais ou menos exaustivo do que se não deve fazer, promovendo autonomia, regulação e cooperação.

 - Procurar a excelência com as crianças que foram admitidas na escola, buscando a diferenciação pedagógica, para educar com qualidade a todos.

3 – Desenvolvimento Organizacional (da escola)

- Clarificar e divulgar o Projecto Educativo da Escola a toda a comunidade educativa.

- Esclarecer a natureza, composição e funcionamento do “Conselho Geral da Artave” (segundo o artº 18º do DL. 4/98, “órgão de consulta geral da escola, integrado quer por representantes de todos os grupos que integram comunidade educativa da escola, quer por representantes de instituições locais representativas do tecido económico e social”).

- Melhorar os meios de comunicação entre órgãos administrativos, direcção, professores e pais: menos reuniões, menos papeis, menos regras e mais funcionalismo, menos burocrático e mais prático. Usar mais as novas tecnologias da comunicação e informação de forma organizada. Melhorar a plataforma Google já utilizada como agenda, partilha de documentos, informações de actividades.

 - Partilhar ideias e projectos com escolas nacionais e europeias com objectivos e princípios equivalentes (e-twinning).

 - Trazer a família dos alunos para colaborar na organização/staff de actividades/concertos. 

 - Realizar auto-avaliação interna para elevar a qualidade do ensino/aprendizagem a partir da crítica/análise/reflexão construtiva.

 - Desenvolver, na gestão escolar, liderança democrática e organizada, tendo em conta todos os intervenientes educativos (representante de pais, de alunos, de autarquias, de direcção, de professores).

 - Continuar a desenvolver formação em alternância (revezar formação clássica com períodos de learning by doing – estágios).

 - Extravasar a educação para ambientes não estritamente escolares (estabelecer parcerias para aquisição de on-the-job experience).

 - Sendo uma escola que procura a excelência musical com níveis de qualidade equivalentes aos europeus, deve equilibrar o trabalho específico e tecnicista, semelhante à alta competição desportiva, com o desenvolvimento humano, de e para valores.

 - Procurar a inclusão social de alunos com mobilidade física reduzida e dar apoio especializado a alunos com dificuldades na aprendizagem.

 - Desfazer a lógica do tempo escolar: trabalhar por equipas de professores para equipas de alunos.

 - Em destaque, procurar mais apoio tecnológico e apoio de pessoal especializado no campo social e psicológico.

4 – Desenvolvimento Curricular (dentro da escola, dentro da sala de aula)

- Transformar a planificação/implementação curricular em desenvolvimento curricular, através do desenvolvimento profissional, pedagógico e organizacional da escola. Mudar a cultura de escola para uma cultura de projecto curricular integrado (Alonso, 2006).

Articular de forma eficiente os conteúdos das disciplinas (ex: Formação Musical/teoria e Instrumento/prática), desenvolver práticas transcurriculares.

- Dar mais ênfase/clarificar objectivos, competências e critérios de avaliação a áreas como Projectos Colectivos.

- Procurar o desenvolvimento curricular como meio de aproximar a teoria à prática, como via de relações entre ideias e valores. Incentivar à organizar social o trabalho de aprendizagem através da elaboração de projecto curricular de turma, agenda da semana, diário de turma, plano individual de trabalho, fichas de registo de projectos e registos diversos (Trindade & Cosme, 2010).

- Incentivar a reestruturação contínua das formas de representação do saber e a colaboração com alunos na reflexão sobre a prática.

- Tomar consciência dos conhecimentos, princípios/valores a abordar, transformando-os em actividades práticas, na construção do “saber em uso”.

- Exprimir em actividades os conteúdos curriculares de forma a desenvolver espírito crítico, capacidade de comunicaçãovalores.

- Gerir e flexibilizar o currículo para equilibrar o binómio programas nacionais com projecto educativo de escola (Roldão, 2000).

- Incentivar a visão do currículo como projecto a construir de forma colaborativa entre membros educativos, com finalidades comuns: educação com qualidade, inserção no mundo do trabalho, desenvolvimento cultural, social e económico da sociedade.

- Melhorar a avaliação formativa, autêntica, reflexiva, assente no paradigma da quarta geração (Geração da Avaliação como negociação e construção - Guba & Lincoln, 1989).

- Aplicar a estrutura modular de forma mais eficiente para que não haja “recuperação de módulos”. 

- Clarificar identidade/valores, finalidades/conteúdos, processos/estruturas, tendo em conta o multiculturalismo. Assente em teorias do currículo pós-críticas (Silva, 2000), adequar a educação e aprendizagem à diversidade.

Em síntese, as potencialidades desta proposta serão:

- Melhoria da qualidade do ensino/aprendizagem da música.

- Avaliação de forma construtiva e diferenciada (formativa e multidimensional).

- Melhoria da cultura de escola: projecto comum a todos os intervenientes.

- Desenvolvimento equilibrado dos indivíduos: educar e aprender na escola.

Reflectindo e decidindo sobre o porquê, para quê, o como e o quando, os professores desenvolverão capacidades, unindo o conhecimento à prática, o saber tocar bem com o saber ensinar bem. Os docentes, como interlocutores qualificados (Trindade & Cosme, 2010) ou mediadores intencionais (Alonso , 2000), irão contribuir para a acção educativa qualificada através: de apoio ao trabalho e às actividades de aprendizagem dos alunos; da organização e gestão das situações de trabalho autónomo; e da criação das condições necessárias para promover a reflexão sobre o trabalho realizado. Assente no paradigma quarta geração da avaliação (negociação e construção), utilizarão a avaliação como construção social do conhecimento, integrada no processo ensino/aprendizagem. Desenvolver-se-á o currículo de forma horizontal, vertical e lateral, articulando programas (nacionais), projectos (escola) e interesses da comunidade envolvente.

Ciente da dificuldade da mudança, prevejo factores condicionantes:

- Condições políticas, organizativas, ideológicas, pedagógicas e pessoais enraizadas na cultura escolar (tradição histórica e social).

- Trabalho excessivo para professores e alunos, muito mais para além das aulas - gestão de tempo.

- Gestão económica e de recursos humanos pela organização escolar.

- Concepção de teoria de currículo tradicional (centrada nos conteúdos).

- Atitude de defesa incondicional dos alunos, por parte dos encarregados de educação.

- Realização de inovações demasiado distanciadas dos conteúdos.

- Desenvolvimento de competências e valores em detrimento do trabalho técnico/específico.

- Distanciamento da educação tradicional de que formadores são fruto.

 

BIBLIOGRAFIA:

ALONSO, L. (2000). A construção social do currículo: Uma abordagem ecológica e práxica. Revista da Educação, Vol. IX, nº1, 53-68.

MORGADO, J. (2004). Qualidade na educação - Um desafio para professores. Editorial Presença, Lisboa

ROLDÃO, M.C. (2000). O currículo escolar: da uniformidade à contextualização – campos e níveis de decisão curricular. Revista da Educação, Vol. IX, nº1, 81-89.

SILVA, T.T. (2000). Teorias do currículo: o que é isto? In Tomaz Tadeu, Silva (Ed.), Teorias do Currículo Uma introdução crítica. pp. 9-16. Porto: Porto Editora.

TRINDADE, R. & COSME, A. (2010). Educar e aprender na escola – Questões, desafios e respostas pedagógicas. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão